O "DistritalBeja" regressa com o início do ano de 2015 ao seu Espaço Entrevista, tendo nesta primeira entrevista do ano ido até Algarve, onde Zé Maria Monteiro, que já passou por vários clubes da 1ª Divisão Distrital é agora treinador de guarda-redes da formação do Sporting Clube Farense, acumulando também funções de treinador adjunto da equipa de sub-23 que disputa a 1ª Divisão Distrital da AF Algarve e o cargo de treinador da equipa de Petizes do clube de Faro.
Antes de chegar ao clube algarvio trabalhou junto dos escalões de formação do Vitória SC, Bétis de Sevilha, depois de já no distrito de Beja ter orientado o treino de guarda-redes do CCD Bº Conceição e CB Beja.
Nome Completo: José Maria Brito Lança Fonseca Monteiro
Data de Nascimento: 1991-10-07 (23 anos)
Nacionalidade: Portugal
Naturalidade: Beja
Facebook: https://www.facebook.com/jmmonteiro3
1) Fale-nos um pouco de si, qual o seu passado enquanto desportista?
Antes de tudo, gostaria de agradecer a oportunidade que me foi endereçada pelo “distritaldebeja”, oportunidade essa que permite, entre outra coisas, dar a conhecer o meu trabalho que tem vindo a ser desenvolvido desde alguns anos para cá. O meu passado enquanto desportista começou aos 5 anos de idade, e dividido pelas duas grandes paixões da minha vida: futebol e karaté. Se no karaté posso dizer que era um atleta bastante promissor e que foi obrigado a abandonar cedo devido a uma lesão grave no joelho aos 16 anos, no futebol nunca fui um atleta tão vistoso como nas artes marciais. Comecei o meu percurso futebolístico como guarda-redes do clube desportivo de Beja, passando lá 6 anos da minha formação. Aos 11, fruto da extinção do futebol de formação do clube, mudei-me para o eterno rival, o Despertar Sporting Clube, onde me sagrei campeão distrital e acumulei diversos campeonatos nacionais nos escalões de futebol de onze. Pelo meio, no escalão de iniciados, joguei no Sporting Clube de Cuba, num ano onde fui chamado a prestar provas no Vitória Sport Clube (Guimarães), clube onde militavam na altura os meus conterrâneos Luís Aurélio e Tiago Targino. Acabei por voltar ao Despertar a fim de jogar com regularidade no campeonato nacional de Juvenis e fiquei até ao meu primeiro ano de sénior. Seguidamente, joguei 1 ano no Bairro da Conceição, 1 no Ferreirense e, por fim, no Vasco da Gama da Vidigueira, no extinto campeonato da terceira divisão nacional. Depois, já em Faro “pendurei as luvas” ao serviço do Culatrense devido à falta de tempo e decidi dedicar-me em exclusivo à universidade e ao treino desportivo.
2) Há seis anos atrás foi o mais jovem candidato a tirar o curso de treinador nível I - UEFA B. O que o levou com apenas 17 anos a tirar o curso?
Foi uma decisão “relâmpago”. Com 16 anos, fruto do estágio final do 12º ano, comecei a dar aulas de natação, e o meu gosto pelo trabalho com crianças foi crescendo. Depois surgiu, por parte da Casa do Benfica de Beja, a oportunidade de treinar os guarda-redes da formação, onde estreitei laços muito particulares com um atleta, ele o responsável pela minha paixão pelo treino de futebol: Gonçalo Lopes, na altura era apenas um pequeno guarda-redes, mas fez-me querer aprender, buscar algo mais que na minha cidade pouco havia: formação adequada no que toca ao treino de uma posição tão específica. Um ano depois soube da abertura do curso de treinadores de futebol UEFA B e pensei que poderia ser um passo em frente naquele que era um sonho que aos poucos se foi tornando real – ser um treinador de futebol.
3) No seu percurso universitário teve oportunidade de trabalhar junto do Bétis de Sevilha e Vitória de Guimarães. Como surgiram estas oportunidades e que balanço faz das mesmas?
Foram duas situações bastante distintas, vamos por partes: o Real Bétis Balonpié (conhecido como Bétis de Sevilha) surgiu numa altura em que eu estava a fazer um período de Erasmus naquela cidade. A formação do clube treinava nos campos de futebol da minha universidade (Pablo de Olavide), e eu gostava de sair das aulas e ficar a assistir, até que um dia fui oferecer a minha colaboração a troco de aprender um pouco mais. Estive pouco tempo devido à falta do mesmo, mas não deixou de ser algo enriquecedor. Quanto ao Vitória Sport Clube (Guimarães), foi uma experiência bastante mais séria e produtiva. Estava a trabalhar na empresa “tempolivre” em Guimarães nas férias desportivas e um dos meus colegas era o então treinador da equipa de Iniciados dos vimaranenses (Tozé). O futebol era o nosso elo de ligação, e com naturalidade fui convidado a estar no seio do clube durante parte da pré-época. De referir que essa equipa veio a tornar-se a actual campeã nacional da categoria, “tirando” na última jornada da segunda fase o título ao Sporting Clube de Portugal em plena academia de Alcochete. Foi uma experiência fantástica, que sem dúvida me fez crescer e aprender muito, principalmente a nível de estrutura do planeamento de treino, pois identificava-me muito com o tipo de trabalho realizado pelo treinador da equipa.
4) Atualmente pertence à estrutura do SC Farense, como treinador de guarda-redes de todas as camadas jovens. Como se encontra a correr esta experiência?
Não só treino todas as camadas jovens como ainda sou treinador principal da equipa de petizes de 2007. Tem sido uma experiência fantástica, cada vez mais me sinto parte do clube e parte da grande família que nos absorve quando, orgulhosamente, vestimos o fato-de-treino do clube. Além da responsabilidade acrescida que é trabalhar e formar crianças, adolescentes e adultos, tenho absorvido imenso conhecimento com os meus colegas e atletas. Cada dia saiu do estádio com um sorriso na cara a pensar que aprendi um bocadinho mais. Não gostando de particularizar, não posso deixar de agradecer a duas pessoas em concreto, que sempre acreditaram e apostaram em mim, às vezes para funções delicadas e que necessitam uma grande e mútua confiança: Hugo Costa (responsável pelo departamento de formação do clube) e José Serrão (treinador de guarda-redes da equipa sénior). No geral posso dizer que o SC Farense me abriu todas as portas e me deu todas as ferramentas necessárias para desenvolver o meu trabalho, dependendo apenas de mim agarrar todas as oportunidades que me dão e tentar provar o meu valor. Posto isto, estou eternamente grato a esta grande casa, que já considero fazer parte dela.
5) Recentemente juntou as funções de treinador de guarda-redes da equipa "B" da equipa algarvia, onde trabalha com o bem conhecido do distrito de Beja Pitico. Pensa no futuro prosseguir uma carreira enquanto treinador?
Na verdade, eu fiz parte da equipa técnica que iniciou este projecto – equipa de Sub-23, sendo que o Pitico assumiu funções de treinador principal já no decorrer da temporada. Neste momento apenas me concentro no dia-a-dia e tento disfrutar e aprender ao máximo com as pessoas envolvidas no projecto. Este último ano foi de uma “ascensão” de funções muito grande no SC Farense, e por isso quero apenas me concentrar em fazer bem tudo aquilo que tenho para fazer. Se quero prosseguir, um dia, uma carreira enquanto treinador? É claro! É esse sonho que me move, que me alimenta e que me dá vontade de passar, por vezes 7 horas por dia a dar treinos, à chuva, sol, vento ou frio. Mas tenho os pés bem assente no solo em que piso, e quero dar passos seguros e reais, como penso que até então tenho vindo a fazer.
6) Tendo trabalhado nas estruturas do CCD Bº Conceição e CB Beja no distrito de Beja e no FG Benfica de Faro, quais as principais diferenças que encontrou entre o distrital infantis de Beja e do Algarve, e as diferenças entre as formas de trabalhar?
Comecemos pela primeira parte da pergunta: existem certas diferenças entre as realidades distritais de Beja e do Algarve, desde logo a competitividade e qualidade das equipas. Em Beja é quase uma realidade repetida que a luta pelo título é sempre entre Despertar e Cuba, onde existe sempre um 3º candidato de um leque entre Castrense, Moura, Vasco da Gama e Serpa, mas não foge muito disso. No Algarve existe não só um maior número de equipas como também uma muito maior competitividade. Teremos sempre os 3 “eternos” candidatos ao título (SC Farense, Olhanense e Portimonense) mas nunca é de descartar equipas como Louletano, Lusitano de Vila Real, Geração de Génios, Montenegro ou Almancilense. Acaba por ser um campeonato menos previsível e mais disputado que o de Beja, mas ambos têm qualidade.
Passando para a segunda parte da pergunta, não sei se estarei completamente habilitado a responder, pois saí de Beja à 4 anos e algumas coisas podem ter evoluído. Desde já, uma coisa que encontrei no SC Farense e algo que me deixou extremamente satisfeito é que a formação é para formar, sublinho, FORMAR. Ganhar 20-0 é algo que não passa pelos principais objectivos, é preferível em certos jogos utilizar os jogadores que se calhar têm um pouquinho mais de dificuldade em relação aos colegas de equipa, de forma a motiva-los e mostrar que todos contam. Outra coisa, a importância da derrota e o saber perder também está incutido no espirito dos treinadores: mentalizar desde cedo que os homens se vêm nas derrotas torna qualquer criança mais forte e mais sensível à humildade na hora de saber ganhar. Claro que estamos a
falar num patamar de formação que não é o escalão de iniciados, juvenis ou juniores, onde as exigências já são completamente diferentes. No que me lembro de ver em Beja, infelizmente sei que era dos poucos que “lutava” por algo do género, tirar o “peso” da importância da vitória e tentar que as coisas fossem bem feitas, com união de grupo e amizade entre os atletas. Para minha tristeza, sei que certos clubes do meu distrito ainda têm pessoas a incutir nas crianças a obrigatoriedade de vencer “a todo o custo”, e isso é uma das razões que aponto para cada vez mais sentirmos que o nosso futebol estagnou: não existe mais a paixão ao jogo, existe a paixão à vitória apenas, e isso é triste. Felizmente, alegra-me ver uma nova vaga de jovens treinadores que começam a “entrar em cena” e a fazer algo para mudar este paradigma.
7) Na presente temporada pendurou as luvas, depois de uma temporada ao serviço do Culatrense, esta pausa é temporária ou irá concentrar-se a tempo inteiro na vertente do treino?
O futuro nunca se poderá prever, mas neste momento não penso calçar mais as luvas a não ser nos torneios académicos ou ao fim de semana com os amigos. O tempo de treino consome-me e, sinceramente, já não consigo ver o futebol como jogador, sinto necessidade de algo mais, de ser não quem joga, mas quem fomenta uma estratégia, quem delineia um percurso a seguir…
8) Deixe uma mensagem a todos os nossos visitantes e amigos.
Finalizo como comecei, agradecendo desde já ao distritaldebeja esta oportunidade que me foi dada. De resto, gostaria de deixar uma palavra de apoio e força a todos os treinadores que, como eu, tentam singrar e subir de forma humilde e modesta. Adquiram o máximo de conhecimento e ponham-no em prática; não tenham medo de errar ou medo da crítica; sejam vocês e não aquilo que vos dizem ou pedem. Se assim for, verão que mais cedo ou mais tarde algum tipo de reconhecimento surgirá, prova disso é esta mesma entrevista.
A todos os leitores do distritaldebeja deixo as maiores saudações desportivas e o desejo que continuem a lutar pelo bem do nosso futebol: sem vocês não será possível, e o nosso distrito precisa de gente boa no desporto!
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